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Apesar da crise, rentabilidade é elevada
O Banco do Brasil é a instituição com melhor rentabilidade entre os 20 maiores bancos de capital aberto da América Latina e dos Estados Unidos, de acordo com a Economatica.
Maria Christina Carvalho
A crise internacional afetou o desempenho dos bancos brasileiros no primeiro semestre e derrubou os lucros. O resultado foi melhor do que se esperava, porém. A manutenção das margens nos bancos privados e o crescimento do crédito no caso dos bancos públicos permitiram o reforço expressivo das provisões para crédito, precaução importante dada a expectativa de que a inadimplência atingirá neste trimestre o pico da onda atual de elevação.
"Conseguir uma rentabilidade de 20% no quadro atual é um resultado excepcionalmente bom", disse João Augusto Salles, analista de bancos da Lopes Filho. De acordo com levantamento da consultoria Austin Rating, a rentabilidade média apresentada pelos 14 bancos que já divulgaram os resultados neste semestre está em 19,4%, sendo maior nos grandes bancos (19,6%) do que nos médios (14,1%). No primeiro semestre de 2008, os bancos tiveram um retorno médio de 23,3%.
O Banco do Brasil é a instituição com melhor rentabilidade entre os 20 maiores bancos de capital aberto da América Latina e dos Estados Unidos, de acordo com a Economatica. O retorno médio sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) do banco estatal fechou o semestre em 12,9% ou 27,4% anualizado.
Para o presidente da Austin Ratings, Erivelto Rodrigues, se os grandes bancos não tivessem feito grandes reforços de provisão, os resultados seriam melhores.
Os 14 bancos que já divulgaram balanço elevaram as despesas com provisões para crédito em 80% nos doze meses terminados em junho, puxando o saldo desse colchão de segurança em 69%, para R$ 66,4 bilhões. Os bancos médios aumentaram o saldo de provisões em 80,6% e os grandes, em 69%.
O sistema financeiro aumentou as provisões em 65% ou R$ 36 bilhões, de R$ 55,7 bilhões para R$ 91,96 bilhões entre junho de 2008 e junho passado.
Somente o Itaú Unibanco dobrou o saldo de provisões, de R$ 11,7 bilhões para R$ 22,9 bilhões. O analista de bancos da corretora Fator, Fernando Salasar, em relatório enviado a clientes, notou que as despesas com provisões do banco cresceram 10,9% na comparação trimestral e a instituição ainda consumiu R$ 775 milhões do saldo de provisões adicionais que mantém no balanço. Não fosse isso, as despesas teriam crescido ainda mais.
Para Salasar, quando a inadimplência apresentar sinais de melhora, provavelmente no último trimestre do ano, a reversão de provisões deve contribuir positivamente no resultado.
Os outros bancos foram igualmente cautelosos com essa conta diante do aumento da inadimplência, que deve atingir o pico neste trimestre e então estabilizar. Em junho, a inadimplência medida por créditos vencidos há mais de 90 dias atingiu 6,7% no mercado.
O Banco do Brasil (BB) foi o destaque do mercado ao exibir um retorno de 24,8% no resultado semestral divulgado ontem, sustentado pela expansão do crédito, e retomar o posto de maior banco do mercado. Ao contrário dos outros bancos que pisaram no freio do crédito, o BB manteve o ritmo exuberante de 2008.
"No auge da crise, os bancos federais, principalmente o BB e a Caixa, desempenharam papel fundamental para irrigar o mercado", disse o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues.
Isso explica por que o BB aumentou a carteira de crédito em 32,8% no primeiro semestre deste ano em comparação com igual período de 2008, enquanto os outros cinco grandes bancos analisados pela Austin Rating ampliaram a carteira entre 12,9% (Banrisul) e 20,9% (Bradesco) e os médios diminuíram os empréstimos em 11,5%.
O crescimento orgânico do crédito mais as aquisições (da Nossa Caixa, principalmente) explicam a retomada do posto de maior banco brasileiro pelo BB em ativos e crédito, com R$ 598,8 bilhões e R$ 252,5 bilhões, respectivamente. O BB deslocou para o segundo posto o Itaú Unibanco, que segurou o crédito e foi afetado pelo impacto da desvalorização do dólar nos ativos denominados em moeda estrangeira.
Mas a receita com crédito dos grandes bancos continuou vigorosa diante do aumento da margem. Os seis grandes bancos examinados pela Austin Ratings mostram a expansão de 33,9% da receita com crédito, que chegou a crescer 61,3% no Votorantim, 42,6% no Itaú Unibanco, 40,3% no Banrisul e 32,7% no BB.
A analista da Ativa, Laura Lyra Schuch, notou que, apesar de o Banco do Brasil ter puxado a redução dos juros no crédito, seu spread não foi abalado. De acordo com dados divulgados pelo próprio banco, seu spread global foi de 7,3% no segundo trimestre, acima até mesmo dos 7,1% de igual período de 2008. Laura atribui em parte esse fato à redução do custo de captação do banco, beneficiado pelo afluxo de investidores e pela queda da taxa básica de juros (Selic). O spread do banco também melhorou com o aumento das operações de financiamento ao consumo.
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