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Você está pronto para abrir o capital de sua empresa?
Ter controles financeiros e contábeis bem organizados e transparência na hora de passar informações ao mercado é ponto crucial – e ainda uma barreira para o pequeno empresário
Quanto mais dados, melhor a avaliação, principalmente quando se trata de tomar financiamento de bancos ou sócios. Nesse momento, a qualidade e a transparência das informações que os empreendedores têm a respeito de seus negócios contam muito para que obtenham melhores condições na tomada de recursos.
Para os micro e pequenos empresários, para os quais a regulação já facilitou a abertura de capital na bolsa no ano passado, a transparência no fluxo de informações continua sendo um problema, principalmente se o empreendedor não tem o perfil de um Relações com Investidores (RI).
Esse profissional, que trabalha geralmente em empresas de capital aberto, reúne o conjunto global de informações da empresa – que passam pelo financeiro, estratégia de gestão, controladoria e até comunicação.
“Há uma quantidade pequena de PMEs na bolsa, assim como há poucas empresas de capital aberto no Brasil. O RI é fundamental para que as companhias melhorem sua gestão, e por isso lançamos um livro com história de empreendedores”, diz Geraldo Soares, presidente do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores).
A entidade lançou, em conjunto com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o livro Relações com Investidores - Da Pequena Empresa ao Mercado de Capitais em evento na BM&FBovespa.
A avaliação de especialistas é que o empreendedor precisa de formação e de uma mudança de postura, que deve ter como alvo a expansão de sua empresa por meio da abertura de capital.
O Sebrae Nacional em parceria com a BM&FBovespa deve lançar até o fim deste ano um curso para capacitar o empresário de pequeno porte para a abertura de capital. Até lá, é possível adotar as dicas abaixo para melhorar a atitude perante possíveis sócios.
O PODER DA INFORMAÇÃO
Maria Auxiliadora de Souza, gestora do Núcleo de Desenvolvimento de Pequenas Empresas do Sebrae Nacional, diz que o empreendedor ainda trabalha a questão das informações financeiras com uma postura cartorial, ou seja, de que isso é de poder dele e não deve ser compartilhado.
“O desafio é que ele tenha boas práticas de governança e de gestão financeira, até mesmo para capitalizar o negócio em fundos de capital semente e venture capital”, diz.
Segundo ela, o trabalho do Sebrae está ainda concentrado no empreendedor que precisa negociar com bancos para obter o melhor crédito para o andamento do negócio, ou seja, ele está numa etapa bem anterior à associação com fundos ou a de abertura de capital.
“Ajudamos ele a preparar a empresa, para que tenha ferramentas de gestão e possa escolher seu próprio caminho. Para se ter uma ideia, a nossa atuação está concentrada no crédito formal. Ensinamos o empresário a sentar para negociar porque hoje ele mais pede do que negocia. Precisa falar de igual para igual”, diz.
Ricardo Rosanova, RI da Helbor Empreendimentos, incorporadora imobiliária, afirma que a empresa desde o início adotou uma postura de transparência e de governança. Nesse processo, chegou a abrir informações estratégicas aos potenciais sócios. A empresa, que é um dos cases do livro do IBRI, abriu o capital em 2007, quando captou R$ 250 milhões.
“Quando abrimos estratégias aos investidores, eles questionaram muito o nosso pensamento, que era diferente dos concorrentes. Então, quando fizer isso, você será confrontado e deve ter disposição e convicção ao abrir a informação para fazer valer sua palavra”, diz Rosanova.
OUÇA CABEÇAS DIFERENTES
Sidney Chameh, presidente da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital) e sócio-gestor da DGF Investimentos, afirma que a taxa de investimento dos fundos de capital de risco em pequenas empresas é de 1%.
Nessa etapa, a falta de informações atrapalha, mas a postura também. "A empresa precisa escolher o fundo que vai investir e não apenas ser escolhida. É importante lembrar que um fundo de private equity implica na troca natural de sócios e na gestão. Mesmo sendo sócio minoritário, o fundo pode vender 100% da empresa quando precisar sair", afirma.
Chameh afirma que o pequeno empresário geralmente tem de lidar com mais de uma função no negócio, e isso torna o processo complicado. Mas uma dica do executivo é que ele pense bem se está pronto a dividir o espaço com um sócio.
“Ele também precisa ter um sonho muito grande. Não é crescer só 20% em três anos. O investidor de fundos quer um retorno muito maior do que esse, porque assume um risco superior. Hoje, ele olha também para o empresário que está em um mercado de potencial”, afirma.
GOVERNANÇA E COMPLIANCE
Para Fernando Mantese, gerente da área de capital empreendedor do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para cada etapa do ciclo de vida de uma empresa há uma solução adequada, que nem sempre é a abertura de capital.
As pequenas empresas, exemplifica, iniciam o negócio com recursos próprios, o que traz como desvantagens o fato de ser escasso e gerar perda do custo de oportunidade do dinheiro.
Depois, buscam o crédito de bancos, que é de alto custo, exige garantias e previsibilidade no fluxo de caixa para pagar a dívida, tem limites, mas permite dedução no Imposto de Renda.
Numa terceira etapa, quando precisam de alavancagem para expandir o negócio, recorrem a sócios. Essa escolha também permite liquidez, fazer a sucessão no caso de empresas familiares, profissionalização da gestão e divisão do risco do negócio.
O desafio, nessa fase, é estruturar a governança corporativa, primeiro montando um conselho de administração. Mas não para aí.
É preciso ter a disposição para dividir o processo decisório. O segundo grande obstáculo, diz Mantese, é estruturar o compliance, ou seja, todo o fluxo de informações contábeis, tributárias, trabalhistas e auditoria.
“Nessa etapa, notamos que há uma carência de planejamento, controle, de plano de negócio e projeto de investimento”, afirma.
SEJA SEU PRÓPRIO RI
O bom nível de informação e de transparência nas empresas acabam sendo exercidos pelo profissional de RI. Em muitos casos, o próprio empreendedor, ainda pequeno, acaba exercendo esse papel, seja na busca de crédito, de sócios e da expansão via abertura de capital.
Thiago Rocha, RI da Senior Solution diz que o ideal é que essa atividade comece desde o primeiro dia de uma empresa. O fundador da empresa de tecnologia com foco no setor financeiro já tinha essa visão e começou a auditar os balanços em 2002 e em 2005 montou um conselho de administração. “Ele fez isso na época que ainda tomava empréstimo nos bancos”, diz Rocha.
Ele conta que os donos buscaram o investimento de venture capital, o que não deu certo na primeira vez. Mas não desistiram.
Estruturaram as informações, lançaram produtos e voltaram a conversar com o fundo investidor. Em 2012, já tinham um profissional de RI, que teve o desafio de estruturar os fluxos, para que todos na empresa tivessem a mesma informação, sem ruído, antes de ir a mercado.
Em 2013, a empresa abriu capital na bolsa, e captou R$ 57 milhões, recurso utilizado em estratégia de aquisições. “A atividade de RI em uma pequena empresa é desafiadora, mas vale a pena”, diz Rocha.
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