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Contraste: cai fluxo de pessoas nas lojas e marcas disputam espaço em shoppings
Número de visitantes em lojas caiu 5,5% no primeiro semestre deste ano no país, de acordo com a Virtual Gate. Ao mesmo tempo, marcas enfrentam filas para entrar nos empreendimentos
Se o número de pessoas que entram em uma loja é um termômetro de desempenho do varejo, a notícia não é das mais animadoras para os comerciantes.
No primeiro semestre deste ano, o fluxo de pessoas nas lojas caiu 5,5% sobre igual período de 2023, de acordo com a Virtual Gate, que monitora 3 mil pontos de venda em todo o país.
Nas lojas de rua, a queda foi maior, de 7,2%, e nas localizadas em shoppings, de 2,4%. Na comparação com 2022, a retração é ainda maior, de 17,4% e de 4,4%, respectivamente.
“Os shoppings estão investindo em alimentação, serviços e entretenimento, o que pode explicar uma queda menor do que a de ruas”, diz Heloísa Cranchi, diretora da Virtual Gate.
Considerando somente junho, a diminuição é de 0,5% sobre o mesmo mês de 2023. A notícia é melhor na comparação entre maio e junho deste ano, quando o fluxo subiu 3,8%.
Entre as lojas monitoradas pela Virtual Gate estão C&A, grupo Veste (Le lis, Dudalina), Adidas, Sephora, Natura, Farm, Puma, Tok & Stok, Sodimac, Chatuba, além de redes regionais.
Com exceção das lojas de perfumaria e cosméticos, os pontos de venda de todos os outros setores acompanhados pela Virtual Gate apresentaram queda no fluxo de pessoas.
No primeiro semestre deste ano, o número de visitantes em lojas de perfumaria e cosméticos cresceu 10%, na comparação com igual período do ano passado.
No mesmo período, as lojas de móveis registraram queda de 13,9%, de material de construção, de 12,1%, de vestuário e calçados, de 4,3%, e de outros setores juntos, de 3,9%.
Lojas das regiões Norte e Sudeste foram as que registraram as maiores quedas no período, de 6,3% e de 4,3%, respectivamente.
Na região Sul, desconsiderando os estabelecimentos fechados em maio e junho devido às enchentes, a queda foi de 3,9%. Nas regiões Centro Oeste, de 1,3%, e, Nordeste, de 0,8%.
Identificar o fluxo de pessoas nas lojas, diz Heloísa, ajuda os comerciantes a agir para “aproveitar”, “não desperdiçar” cada cliente que entra no estabelecimento.
Na média, de acordo com a Virtual Gate, a taxa de conversão de uma loja é de 17% no país. Isto é, de cada 100 pessoas que entram numa loja, apenas 17 saem com uma sacola na mão.
Alguns de seus clientes que tinham taxa de conversão de 15% no passado, diz ela, quando começaram a entender melhor os desejos dos consumidores, subiram a taxa para 28%.
Paulo Matos, diretor-geral da Tommy Hilfiger no Brasil, diz que há tempos a sua empresa está focada na qualidade, e não na quantidade de clientes que entram nas lojas.
Com 26 lojas próprias, 55 franquias e 2 mil pontos multimarcas, a Tommy treina equipes de vendas semanalmente há cerca de dois anos.
“O vendedor tem de conhecer os produtos que vende, saber o que o cliente busca e qual a melhor maneira de atendê-lo para aquilo que ele precisa no momento, ser um consultor.”
Abril e maio, diz, foram meses mais desafiadores para as lojas. “Em junho, houve uma recuperação nas vendas. Em julho, por causa do frio, está melhor do que junho.”
O fim de junho e o começo deste mês deram um respiro para algumas lojas do Bom Retiro, de acordo com Nelson Tranquez, diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do Bom Retiro.
“As vendas melhoraram nas últimas duas semanas quando as temperaturas baixaram, mas ao longo do ano, é bem provável, elas estão mais fracas do que em 2023”, afirma.
O avanço das vendas online é certamente uma das causas. Para a Abcomm Forecast, o faturamento das lojas virtuais deve ultrapassar os R$ 200 bilhões neste ano no Brasil.
Os compradores virtuais, segundo projeções da Abcomm Forecast, devem chegar a 90 milhões e o ticket médio, a quase R$ 500.
Dados da E-commerce Trends, a partir de pesquisa da Opinion Box e da Octadesk, revelam também a força da venda online
Em 2023, 58% dos 2.088 brasileiros entrevistados compraram mais virtualmente do que em lojas físicas. 22% deles ainda preferiam as compras presenciais.
As plataformas de comércio eletrônico Shein e Shopee, que oferecem moda a preço acessível no país, como exemplo, estão cada vez mais conhecidas por aqui e não param de crescer.
O fluxo de pessoas nas lojas no primeiro semestre, diz Heloísa, revela que o comércio físico, em geral, não está aquecido. “Mas, evidentemente, há exceções”, afirma.
Marcos Hirai, sócio-fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas), diz que tem visto agora fila de espera de marcas para entrar em alguns shoppings.
“Nenhum dos meus dez clientes pediu para diminuir o ritmo de inaugurações. As negociações estão mais difíceis porque há menos espaços vagos nos empreendimentos”, afirma.
Hirai diz que os shoppings não têm mais a visão imobiliária do passado e, sim, de mix de marcas. Portanto, não há tabela padronizada de preços por metro quadrado locado.
“Hoje vale a força de uma marca, que, aliás, é uma conquista. Há marcas que recebem até dinheiro para entrar em shopping e, outras, que têm de pagar luvas por um mesmo espaço.”
São alguns dos contrastes, diz ele, que o varejo vive neste momento.
“Prevalece cada vez mais a lógica de que os shoppings são mais atraentes para as grandes marcas do que para as pequenas. Shopping hoje é para gente grande”, afirma.
É por isso que o movimento de concentração de marcas em um mesmo grupo, que já acontece há alguns anos no país, tende a crescer, de acordo com especialistas do setor.
Os grupos Veste, que reúne as marcas Le Lis, Dudalina, Bo.Bô, Rosa Chá e John John, e AR&CO, dono de Reserva, Arezzo, Schutz, Anacapri, Hering, Farm e Maria Filó, são dois exemplos.
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